sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Jornal da Semana, 29 de abril de l979

Jornal de
São Bernardo do Campo e Diadema




A partir da greve de l979, a comemoração do Dia do Trabalho em São Bernardo tem sido um acontecimento muito importante para o movimento operário.

Nesta entrevista, Lula fala da preparação do ato de lo. de maio de 79, para o qual pretendia levar a São Bernardo aproximadamente 100.000 pessoas. Fala ainda da perda do poder aquisitivo do operário, o desemprego, das condições de moradia dos metalúrgicos de São Bernardo, da impossibilidade de lazer e de outros assuntos importantes na vida do trabalhador.

Trata também de alguns problemas relativos à estrutura sindical e das reivindicações democráticas da sociedade brasileira. E volta a pronunciar-se sobre o por quê do Partido dos Trabalhadores.


- O que o dia 1º. de maio significa para os trabalhadores brasileiros neste ano?
- O significado desse dia não se restringe apenas ao Brasil: estende-se a todo mundo. Certa vez, num 1º. de maio, disse aos trabalhadores que, em vez de fazerem um ato público, era melhor se dedicarem a uma reflexão para avaliar se estavam fazendo jus ao sacrifício dos Mártires de Chicago, que morreram pela jornada de oito horas de trabalho. Naquele época, nós fazíamos aqui cerca de 14b a 16 horas de serviço por dia. Agora, em l970, vivemos um momento diferente. Os trabalhadores estão mais conscientes, os dirigentes sindicais amadureceram. Não tenho dúvidas de que esse 1º. de maio será um marco na historia da classe operária brasileira. Pretendemos trazer a São Bernardo a proximadamente 100.000 pessoas para nosso ato.   COMENTÁRIO:  Comovente o pedido de reflexão sobre os Mártires de Chicago parece tão bonitinha, mas inócuo, por não significar nada aos ‘trabalhadores’ que jamais ouviram falar nisso (provavelmente nem ele, antes da entrevista). Além disso, é indecente que hoje - presidente há sete anos – só agora tenha um governo falando sobre a diminuição de horas de trabalho e justamente em ano eleitoral. Proposta absurda de um governo que não contribui em nada, pois não diminui em um centavo os impostos cobrados às empresas. É o mesmo caso da cesta básica. Ao empregador os ônus e ao governo o bônus.


- A situação dos operários melhorou no Brasil nos últimos anos?

- Não. A grande maioria ganha menos hoje do que em l965. Se hoje muitos operários possuem geladeira, televisão e outros artigos de consumo, isto se deve à pressão da propaganda. Para fazer essas compras muitos sacrificam inclusive a alimentação. De fato, o poder aquisitivo é menor atualmente .    COMENTÁRIO:   Em 78, Luís Inácio se dizia preocupado com o poder aquisitivo ‘do povo oprimido’. Em l986, foi um deputado ausente. Em 2002 teve seu primeiro mandato de presidente, mas só em 2009, num discurso em Maceió, ele disse: ‘— Quero saber se o povo está na merda, e eu quero tirar o povo da merda em que se encontra. “ Porque seu interesse em tirar o povo da merda terá demorado tanto?

- A parcela de trabalhadores mais bem remunerada encontra-se nas grandes cidades. Eles vivem bem nelas?

- Houve um tempo em que nós éramos considerados os marajás da classe operária. O fato de recebermos salários mais altos eu os trabalhadores de outras regiões não significa que somos bem remunerados. Significa que o restante do país ganha muito mal. Hoje, com apenas dois mil reais, se é considerado classle média!

- A tendência atual é dos trabalhadores conseguirem melhores salários e menos horas extras?
- Nós não temos tido aumentos salariais, mas a penas reajustes. Só no ano passado, com as greves, obtivemos 11% de aumento – e ainda estamos brigando por eles. De qualquer forma, a tendência é de as horas extras terminarem, porque os trabalhadores devem adquirir consciência de que precisam ganhar o necessário na jornada de trabalho normal, sem extras, sem se desgastarem fisicamente.  Hora extra só pode ocorrer num caso de emergência da empresa, mas não de forma banalizada como atualmente.    COMENTÁRIO:  Muita gente continua precisando de hora extra para sibreviver.  E, quanto  ao desgaste físico, que ainda existe,  no gestão de Luís Inácio há também o desgaste moral de um povo que precisa comer na mão do governo. 

- O desemprego tem aumentado ou diminuído?

- O desemprego tem crescido na medida em que a oferta de vagas não aumenta na mesma proporção do crescimento demográfico. Não só os desempregados são mais numerosos agora do que antigamente: o subemprego ganha cada vez mais corpo no país. COMENTÁRIO: Hoje temos um número enorme de fábricas de quintal onde trabalhadores trabalham sem carteira assiada.
- Os trabalhadores contam com condições de habitação razoáveis?

- Os trabalhadores altamente qualificados podem comprar ou construir uma casa melhor, porém a maioria não. Em São Bernardo, por exemplo, há muitos metalúrgicos morando em favelas.   COMENTÁRIO:  Ontem mesmo, em campanha antecipada por uma sucessora, L.I. esteve no Rio de Janeiro, uma das cidades com número cada vez maior de favelas.

- A classe trabalhadora tem tempo e dinheiro para o lazer?

- Em geral, o trabalhador não tem tempo nem dinheiro para se divertir. Ele sai de casa de madrugada e só volta à noite, cansado. Quando não faz hora extra no fim de semana tem o sábado e domingo livres. Aí surge outro problema: (a)onde ir? Aqui em São Berardo ao temos local de lazer. A represa da cidade foi poluída pelos governantes, que moram longe daqui. Na verdade,m apenas uma minoria – não chega a 10% - tem direito a lazer.

- Qual é a qualidade do atendimento médico prestado aos trabalhadores?
- Somente quem passa pelas empresas prestadores de serviços médicos sabe qual é o nível de atendimento. Os operários não são bem tratados, pois ficam sob cuidados de médicos mal remunerados, que não podem trabalhar da melhor maneira possível em decorrência de seus baixos salários. Em vez de assumir a assistência médica, o Estado prefere mercantilizar a saúde do povo, colocá-la nas mãos de empresas particulares.COMENTÁRIO: após tanto tempo, a saúde é uma das maiores necessidades do brasileiro, que é tratatado com desprezo nos hospitais públicos.


- Quais as possibilidades de os filhos das famílias operários chegarem às universidade?

- Raríssimas. Somente uma minoria de trabalhadores ganha suficientemente para manter filhos em casa só estudando. Quase todo operário é obrigado a se curvar diante da necessidade do trabalho dos filhos para sustentar a família. E o horário de quem trabalha não permite que se avance nos estudos. Chegam à universidade apenas alguns privilegiados: não atinge 1%. As universidades do /Estado deveriam atender a todos os cidadãos que pagam impostos: não a penas àqueles que passam nos exames. Deveria ser reservado certo número de vagas para os filhos dos operários, com horário adaptado às suas particularidades. As universidades do Estado, que deveriam dar prioridades aos menos favorecidos, privilegiam justamente os mais favorecidos.   COMENTÁRIO:  Ao invés de aproveitar dois mandatos na presidência para oferecer ensino básico decente, que possibilitaria  entrada em Universidades a todos,  L.I. preferiu  se fazer de bom moço, e criou cotas especiais para negros.  L.I. é a imagem de quem dá mas não faz.   E dá com benefício imposto aos outros .  Aliás, porque  os brancos também não tiveram cotas?


- Quais os benefícios sociais mais necessários à classe trabalhadora em termos imediatos?

- São basicamente três: melhor habitação, assistência médica e maiores salários. Com isso, tudo seria mais fácil para o trabalhador – inclusive sua participação política.
COMENTÁRIO:   Favelas continuam crescendo,  muita gente morando nas ruas; assistência médica não existe  (embora ele esteja afobado para 'resolver' este problemas nos extertores do segundo mandato) e o salário mínimo  continua tão mínimo quanto antes.  Quanto ao  esquecimento da  necessidade de educação, podemos pedir a um psicólogo e ele confirmará o que já sabemos.


- Em seu movimento, os trabalhadores se chocam com a estrutura sindical vigente? Como eles encaram o recolhimento compulsório do imposto sindical e a tutela do Ministério do Trabalho?

 A estrutura sindical não prevê trabalhadores se colocando em movimento, mas paralisados com o paternalismo do Estado Quando reivindicam, os operários se defrontam com uma estrutura fascista, antiquada. Os líderes sindicais deveriam lutar para acabar com o imposto sindical, para que os próprios trabalhadores sustentassem diretamente os sindicatos. É o imposto que liga os sindicatos ao governo.   COMENTÁRIO:  1 - Trinta anos depois, com o sindicalista na presidência da república, temos uma quantidade indecorosa de sindicalistas espalhados por todos os órgãos públicos, mas, estranhamente, o importo sindical continua sendo o que era na época desta entrevista, recolhido compulsoriamente. 2 – O sindicalista afirma que o paternalismo do Estado é uma forma de paralisar o trabalhador, mas é exatamente disso que Luís Inácio precisa para manter a simpatia do povo - mais uma vez o sindicalista se desmente.

- O que os governos pós-64 fizeram pelos trabalhadores?

- Se analisarmos bem a questão, veremos que todos os governos brasileiros fizeram muito pouco pelos trabalhadores, tanto antes como depois da Revolução. Antes de l964, eles tinham problemas de habitação, saúde, educação, transporte, salário. Agora, continuam com esses problemas e mais alguns outros, como os causados pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Os últimos governos adotaram uma política de arrocho salarial fazendo com que o trabalhador perdesse poder aquisitivo a partir de l965. Como sempre, os grandes beneficiados foram os empresários. Para eles tudo, para o trabalhador nada.

- Reivindicações democráticas da sociedade – como anistia, fim da censura, liberdade expressão e organização, Assembléia Constituinte – correspondem aos anseios dos trabalhadores brasileiros?

- Reivindicações democráticas dos trabalhadores referem-se a habitação, educação, transporte, saúde, salário. Podemos perguntar para o grosso dos trabalhadores o que é anistia e ele não sabe. É claro que precisamos brigar pela anistia, mas principalmente pela anistia para os trabalhadores que foram a grande vítima da Revolução. Queremos perdoar esse povo pela fome (?) que ele passou. Por ele ter sido escravo dentro das fábricas, ter sido despedido sem direitos. Nós precisamos do direito de fazer greve. só a partir dessa anistia é que conseguiremos realmente democratizar o país. A Assembléia Constituinte interessa ao país na medida em que os trabalhadores participarem, ao lado de todos os setores sociais. Não nos interessa uma Constituinte de elite, como é costume no Brasil.  COMENTÁRIO:  Esta resposta desmoraliza o sindicalista. Ao afirmar que o grosso dos trabalhadores não sabe o que é anistia , então como pretendia que soubessem alguma coisa sobre os os Mártires de Chicago? Mais uma vez vemos um entrevistador que é burro ou finge que é, para não perguntar ao sindicalista como ele poderia explicar aquele pedido tão comovente.


- Os trabalhadores contam com um partido que os represente? Qual? Em caso de resposta negativa , como poderão chegar a ele?

- Os trabalhadores não dispõem de um partido político. O país conta com dois movimentos, um pró-governo, a Arena e um contra, o MDB, que na verdade também é pro-governo. Nenhum dos dois representa os trabalhadores - eles são obrigados a votar neles porque não têm opção.  O partido dos trabalhadores será construído por eles – não só por operários, mas por todos os setores assalariados  –  a médio prazo.  COMENTÁRIO:  Aqui vemos o sindicalista expandir seus objetivos, deixando de se limitar aos trabalhadores para açambarcar todos os setores assalariados, uma área bem maior.


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